O curtailment refere-se à redução ou corte forçado da geração de energia, especialmente em usinas de fontes renováveis, como eólicas e solares, quando a produção supera a capacidade de consumo ou de transmissão do sistema elétrico.
Com o aumento da participação das energias renováveis na matriz elétrica, as discussões sobre o curtailment têm ganhado destaque no setor. Um dos principais desafios ocorre em regiões com alta concentração de parques eólicos e solares, como o Nordeste, onde a produção de energia frequentemente excede a capacidade de transmissão em determinados momentos, resultando em cortes de geração.
Isso significa que, mesmo com ventos intensos ou alta incidência solar, os geradores são obrigados, por orientação do Operador Nacional do Sistema (ONS), a reduzir ou interromper a produção, pois não há como escoar o excedente para outras regiões. Além disso, o descompasso entre geração e demanda intensifica o problema (como a alta geração solar durante o dia e a maior demanda à noite).
Esses cortes na geração têm impactado diversas empresas no Brasil, que se veem obrigadas a redirecionar recursos para compensar a perda de receita, uma estratégia considerada insustentável a longo prazo. Segundo associações dos setores eólico e solar, o curtailment já gerou prejuízos de R$ 1 bilhão aos geradores.
Entre as soluções discutidas para mitigar os impactos econômicos dos cortes, estão a expansão e modernização da infraestrutura de transmissão. Embora o governo realize leilões frequentes de transmissão, desafios como o tempo de implementação e os custos permanecem.
De acordo com a consultoria internacional PSR, mesmo com a previsão de novas linhas de transmissão, “o curtailment será frequente enquanto a oferta de energia renovável crescer em ritmo superior à demanda do país”. Jairo Terra, head de Regulação e Litígio da PSR, aponta que, em 2024, a sobreoferta de energia pode alcançar 25%, com uma oferta média de 100 GW para uma demanda de 80 GW.
Uma das alternativas mais promissoras é o uso de tecnologias de armazenamento de energia, como baterias de grande escala, que permitiriam estocar o excedente de energia gerada em momentos de baixa demanda para utilização posterior. Essa medida ajudaria a estabilizar o fornecimento e evitar o desperdício de energia renovável. A Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) anunciou a intenção de regulamentar o uso de armazenamento de energia no primeiro semestre de 2025.
Outra estratégia seria promover o aumento da demanda de energia elétrica do país, incentivando mercados como o de hidrogênio, a mobilidade elétrica e atraindo indústrias de data centers.
Em conclusão, o curtailment representa um desafio significativo para o setor elétrico brasileiro, principalmente nas regiões com alta concentração de energias renováveis.
Esse fenômeno não só afeta a geração de energia, mas também traz impactos econômicos expressivos para as empresas do setor, que enfrentam dificuldades para manter a viabilidade financeira diante da perda de receita.
As soluções passam pela modernização da infraestrutura de transmissão, pela adoção de tecnologias de armazenamento e pela ampliação do mercado consumidor de energia elétrica.
Com iniciativas como a regulamentação do armazenamento pela ANEEL e o incentivo a novos mercados, espera-se que o Brasil consiga minimizar o curtailment e avançar rumo a uma matriz energética mais sustentável e eficiente.