Olá, nesta semana vamos falar sobre a tecnologia de armazenamento de energia em baterias.
O assunto torna-se cada vez mais relevante com a possível inclusão da tecnologia no próximo Leilão de Reserva de Capacidade, agendado para 30 de agosto.
Neste artigo você vai encontrar:
- porque o armazenamento de energia é uma tendência global;
- qual é a expectativa de crescimento dessa tecnologia;
- como está a regulamentação do armazenamento em baterias no Brasil;
- quais são as aplicações no contexto do setor elétrico.
É possível estocar o vento?
Em abril de 2015, a então presidente Dilma Rousseff provocou discussões ao usar a expressão “estocar o vento” durante um discurso sobre a energia eólica no Brasil. A frase tornou-se amplamente conhecida na mídia e foi motivo de piadas entre a população. Porém, nove anos depois, constata-se que a declaração da ex-presidente não era tão absurda como se pensava.
Em 20 de março, durante um evento nos Estados Unidos, o atual ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, anunciou que o governo está considerando a inclusão de sistemas de armazenamento de energia em baterias no próximo Leilão de Reserva de Capacidade, previsto para 30 de agosto.
Neste momento, enquanto este artigo está sendo redigido, é incerto se os sistemas de armazenamento serão de fato incluídos no leilão do governo. A confirmação só virá com a publicação do edital. Até então, apenas usinas hidrelétricas e termelétricas estão garantidas.
A incorporação de sistemas de armazenamento de energia em baterias é uma tendência global e está na pauta do setor elétrico brasileiro. Entre outubro e dezembro de 2023, a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) realizou uma Consulta Pública (nº 39/23) visando iniciar a regulamentação dessa tecnologia no Brasil, com expectativa de avanço nos debates ao longo de 2024.
O Battery Energy Storage System (BESS) já é uma realidade em diversos países, especialmente na China, Europa e nos Estados Unidos. Segundo dados da Agência Internacional de Energia (IEA), em 2019 o mundo contava com 10,7 gigawatts de capacidade de armazenamento de energia por baterias, com previsão de alcançar 1 terawatt até 2040, movimentando US$ 546 bilhões até 2035.
No Brasil, a previsão é atingir 7,2 GW até 2040, com um movimento financeiro estimado em mais de US$ 12,5 bilhões, conforme dados da Clean Energy Latin America (CELA).
A tecnologia de armazenamento de energia torna-se crucial no contexto da transição energética. Com a expansão das fontes renováveis, especialmente eólica e solar, cresce a necessidade de soluções para lidar com a variabilidade dessas fontes e garantir a flexibilidade dos sistemas elétricos.
Nesse sentido, as baterias desempenham um papel fundamental, contribuindo para equilibrar a produção de energia dessas fontes – seria quase como “estocar o vento” ou “estocar o sol” (risos).
Além disso, o BESS pode ser utilizado como alternativa para contornar restrições locais, substituir investimentos tradicionais em distribuição ou transmissão, ou mesmo para o controle de tensão e frequência da rede.
Em março de 2023, a transmissora Isa Cteep inaugurou o primeiro projeto de armazenamento de energia em baterias em larga escala do Brasil, na Subestação Registro, em São Paulo. Com 30 megawatts de potência, a solução foi utilizada para evitar o acionamento de geradores a diesel durante os picos de demanda de carga na região.
As baterias podem variar em composição, como chumbo-ácido, níquel-cádmio, sódio-enxofre, entre outras, mas a tecnologia de íons de lítio desponta como a mais promissora devido à sua alta capacidade de armazenamento, e de carga e descarga.
Em suma, a inclusão de sistemas de armazenamento de energia por baterias no cenário energético brasileiro representa um passo significativo em direção à modernização e sustentabilidade do setor.
Esta medida não só acompanha as tendências globais, mas também atende às necessidades específicas do país, especialmente diante do aumento da demanda por fontes renováveis e da busca por soluções para lidar com sua variabilidade.
A possibilidade de “estocar o vento” ou “estocar o sol” torna-se uma realidade cada vez mais tangível, abrindo portas para um futuro energético mais eficiente, flexível e ecologicamente responsável.