Que o mercado de energia elétrica é muito dinâmico todos sabemos. Mas, talvez estejamos diante de um ano em que esse dinamismo seja ainda mais intenso, dessa forma separamos algumas tendências do mercado de energia.
Começando pela abertura do mercado livre, ambiente no qual empresas conseguirão economizar até 35%, mas também passando pela renovação das concessões das distribuidoras, realização de leilões de reserva de capacidade, regulamentação do mercado de carbono, expansão da mobilidade elétrica, evolução das baterias etc., o setor elétrico está eletrizante em 2024.
Reunimos essas informações para que você saiba tudo sobre as tendências do mercado de energia o que está acontecendo no mundo da eletricidade e, sobretudo, para que você tome as melhores decisões para o seu negócio decolar neste ano.
Neste artigo você vai encontrar 12 tendências do mercado de energia:
- O que muda no Mercado Livre de Energia em 2024?
- Renovação das concessões de distribuidoras de energia em 2024
- Dois leilões de linhas de transmissão de energia em 2024
- Leilão de reserva de capacidade 2024
- Leilões de Energia A-1 e A-2
- Previsões para o El Niño e entrada do La Niña em 2024
- Mercado brasileiro de hidrogênio pode ser regulamentado em 2024
- Eletrificação da mobilidade avança em 2024
- Investimentos em energias renováveis continua em 2024
- Perspectivas para o armazenamento de energia
- Digitalização do setor elétrico: tendência em ascensão
- Autoprodução de energia
1. O que muda no Mercado Livre de Energia em 2024?
Desde 1º de janeiro de 2024, as pequenas e médias empresas – como supermercados, padarias, farmácias, redes de varejo, hotéis, etc. – podem acessar o Mercado Livre de Energia.
O Mercado Livre é um ambiente de negócios do setor elétrico onde é possível negociar livremente o preço da energia diretamente com o fornecedor sem muita burocracia.
O principal benefício dessa negociação é reduzir significativamente as despesas com energia elétrica do seu negócio. Em alguns casos a economia pode chegar a 35%.
O Mercado Livre de Energia existe há mais de 20 anos no Brasil, porém só estava disponível para indústrias e grandes empresas, com contas acima de R$ 150 mil. A partir de agora, negócios com contas acima de R$ 10 mil já podem considerar essa possibilidade.
A única exigência é que a empresa esteja conectada na média ou alta tensão, ou seja, pertença ao Grupo A. Essa informação consta na fatura em diferentes lugares dependendo da distribuidora local, mas caso tenha dificuldade, entre em contato conosco pelo nosso WhatsApp (11) 5090-8000.
Veja 6 benefícios do Mercado Livre de Energia:
- Negociação direta com fornecedores
- Melhor gestão de gastos com energia
- Maior previsibilidade de despesas
- Melhores condições de contratação de energia
- Flexibilidade para capturar oportunidades de mercado
- Possibilidade de comprar energia renovável para atingir metas ESG
2. Renovação das concessões de distribuidoras de energia em 2024
As distribuidoras de energia elétrica são responsáveis por garantir que a eletricidade chegue com qualidade até as nossas casas e empresas. São elas que fazem a gestão da rede, faturam a energia que é entregue ao consumidor e fazem a redistribuição dos recursos financeiros para os demais elos do setor elétrico.
As distribuidoras operam no Brasil por meio de concessões autorizadas pelo Governo Federal. Alguns estados possuem uma única concessionária, mas isso não é regra, podendo ter duas ou mais empresas operando em uma mesma federação.
Em junho de 2023, o Ministério de Minas e Energia (MME) iniciou as discussões para renovar as concessões de um conjunto de empresas. Em setembro de 2023, o MME enviou ao Tribunal de Contas da União (TCU) as diretrizes para a renovação desses contratos. Em janeiro de 2024, o TCU disse que o MME pode seguir com o processo, mas que irá analisar posteriormente caso a caso.
No total, 21 distribuidoras estão com contratos vencendo entre 2025 e 2031. Juntas, essas empresas representam 62% do mercado de distribuição de energia do país, nas quais as receitas somadas ultrapassam R$ 168 bilhões.
Cerca de 55,5 milhões de clientes serão afetados, distribuídos pelos estados do Espírito Santo, Rio de Janeiro, Bahia, São Paulo, Rio Grande do Sul, Matogrosso do Sul, Mato Grosso, Sergipe, Rio Grande do Norte, Ceará, Pará, Paraíba, Pernambuco e Maranhão.
3. Dois leilões de linhas de transmissão de energia em 2024
O sistema de transmissão de energia é formado por subestações e redes elétricas de alta voltagem capazes de transportar grandes volumes de eletricidade por quilômetros de distância.
Essa infraestrutura, fundamental ao escoamento da energia e à segurança energética do país, é contrata por meio de leilões promovidos pelo Governo Federal.
Como essa infraestrutura demanda tempo para ser construída, essa contratação precisa ser feita com anos de antecedência. Por isso, todos os anos o Governo promove pelo menos dois leilões de transmissão.
O primeiro leilão será realizado em 28 de março de 2024, na sede da B3, em São Paulo. Serão licitados 69 empreendimentos em 15 lotes, somando R$ 18,2 bilhões em investimentos.
O segundo leilão deverá ser realizado em 27 de setembro e irá licitar cinco lotes, somando R$ 4,06 bilhões em investimentos.
4. Leilão de Reserva de Capacidade 2024
Além das licitações de transmissão, o Governo Federal geralmente realiza anualmente leilões de geração de energia. Objetivo é contratar energia para o atendimento da demanda do país.
Porém, nos últimos anos alguns desses leilões não foram realizados, pois o Brasil enfrenta um contexto de sobras de energia. Além disso, o Mercado Livre de Energia passou absorver a construção de novas usinas.
Apesar das sobras de energia, o país tem o desafio de atender a demanda nos horários de pico de consumo. Por isso, é necessário ter uma reserva de energia que possa ser despachada em alguns momentos do dia.
O Leilão de Contratação de Potência Elétrica e Energia Associada, denominado Leilão de Reserva de Capacidade, consiste na contratação de potência para o sistema elétrico brasileiro a partir de empreendimentos de geração termelétrica e hidrelétrica (novos e existentes), visando garantir a segurança do fornecimento de energia do país.
O próximo Leilão de Capacidade está agendado para agosto de 2024 e deve ofertar três produtos: um produto com entrega para 1º de julho de 2027 (com 7 anos de contrato), e dois produtos com entrega para 1º de janeiro de 2028 (com 15 anos de contrato).
Caso as previsões se confirmem, esse será o segundo Leilão de Reserva de Capacidade da história do Brasil. O primeiro foi realizado em 2021 e resultou na contratação de 4,6 gigawatts (GW) de potência.
5. Leilões de Energia Existente A-1 e A2
Os Leilões de Energia Existente A-1 e A-2 são realizados todos os anos no mês de dezembro. Esses certames são conhecidos como leilões de ajuste, pois servem para ajustar o balanço energético das distribuidoras que eventualmente possam ter alguma falta de energia no horizonte de dois anos à frente.
O A-1 contrata energia para o ano seguinte e o A-2 para dois anos à frente. Como o prazo é extremamente curto para construção de usinas, essa energia é adquirida exclusivamente de empreendimentos já em operação, por isso o nome de Leilão de Energia Existente.
6. Previsões para o El Niño e entrada do La Niña em 2024
As fontes renováveis de energia representam 83,67% da matriz elétrica brasileira, com as hidrelétricas ocupando uma participação de 52%. As demais fontes renováveis são eólicas, solares e biomassa. Isso significa que o desempenho das usinas depende de condições climáticas.
O El Niño é caracterizado pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico. O fenômeno climático provoca mudanças no regime de chuvas e nas temperaturas. Ele está caracterizado desde fevereiro de 2023 e em janeiro deste ano atingiu seu pico de intensidade.
A expectativa é que o El Niño continue enfraquecendo até o início de outubro. Alguns modelos já consideram a instalação de um La Niña durante o inverno de 2024. Se o El Niño é caracterizado por chuvas intensas na região Sul e secas severas no Norte; o La Niña tem o efeito contrário.
As mudanças no regime de chuvas impactam diretamente a produção das hidrelétricas.
As altas temperaturas geram um pico de consumo de energia por conta do aumento do uso de ar-condicionado, ventiladores e refrigeradores.
Segundo o Operador Nacional do Sistema (ONS), ao final de janeiro, o nível de armazenamento das hidrelétricas estava confortável em todos os subsistemas: Sul (75,6%); Sudeste/Centro-Oeste (63,3%), Norte (60,5%) e o Nordeste (53,3%).
Isso significa que o atendimento a demanda está garantido em 2024. O ONS, contudo, projeta que em alguns momentos do dia será necessário acionar as termelétricas para atender aos picos de consumo.
7. Mercado brasileiro de hidrogênio pode ser regulamentado em 2024
O hidrogênio é considerado o combustível do futuro e o vetor da transição energética devido a sua capacidade de descarbonizar diversos setores da economia, sobretudo a indústria pesada e o setor de transportes.
Em novembro 2023, a Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei 2308/23 que regulamenta a produção de hidrogênio de baixo carbono. O PL foi enviado ao Senado e a grande expectativa é que a publicação da nova legislação seja realizada em 2024.
São classificados nessa categoria o hidrogênio verde (produzido com energias renováveis), o hidrogênio marrom (carvão mineral) e hidrogênio cinza (gás natural), sendo que os dois últimos precisam utilizar tecnologia de captura de carbono (CCUS, na sigla em inglês).
O hidrogênio pode substituir os combustíveis fósseis nos processos industriais e no transporte, tais como navios, aviões e caminhões. Para produção do hidrogênio verde (eletrólise) são necessários cerca de 9 litros de água para produzir 1 kg de H2V. Esse processo resulta na produção de 8 kg de oxigênio como subproduto, que pode ser utilizado no setor de saúde e na indústria.
As promessas de investimento em hidrogênio verde no Brasil somam US$ 30 bilhões (R$ 146 bilhões), sendo que a maior parte se concentra no estado do Ceará devido ao seu potencial de produção de energia limpa e a sua localização próxima a Europa.
Pesquisa da Carbon Tracker aponta que 25 países já se comprometeram a investir US$ 75 bilhões em hidrogênio verde.
8. Eletrificação da mobilidade avança em 2024
A expansão da mobilidade elétrica é mais uma tendência que continuaremos a ver em 2024.
Segundo pesquisa da BloomberNEF, 14,2 milhões de veículos elétricos e híbridos (combustível e eletricidade) foram vendidos no mundo em 2023, um aumento de 35% em relação a 2022.
No Brasil, a venda de carros elétricos cresceu 91% no ano passado, registrando 93.927 emplacamentos, segundo dados da Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE).
A perspectiva é que o setor continue a crescer com o lançamento do programa do governo federal Mover (Mobilidade Verde e Inovação). Entre 2024 e 2028, o programa alcançará R$ 19 bilhões em créditos.
9. Investimentos em energias renováveis continua em 2024
Os investimentos em energias renováveis devem continuar neste ano. Em 2023, o país registrou um recorde de expansão da geração com 10,3 gigawatts (GW) adicionados na matriz elétrica, sendo 90% (9,24 GW) proveniente de usinas eólicas, solares e pequenas hidrelétricas. Atualmente, as fontes renováveis representam 83,67% dos mais de 199,3 GW de potência instalada no Brasil.
Para 2024, segundo dados da ANEEL, está prevista a entrada de mais 10,3 GW de capacidade, sendo 2,1 GW para atendimento ao mercado regulado e 8,18 GW para atendimento ao Mercado Livre de Energia e autoprodução.
10. Perspectivas para o armazenamento de energia
Quem não lembra do dia em que a ex-presidente Dilma Rousseff falou em “estocar o vento”? A declaração viralizou na imprensa e até virou meme na internet.
No entanto, ao mesmo tempo que as fontes renováveis contribuem para reduzir as emissões de carbono elas também impõem um grande desafio para segurança do sistema elétrico, dado as suas características de geração intermitente (pois dependem das condições climáticas).
Para tornar o sistema mais resiliente, uma solução está nas tecnologias de armazenamento de energia (energy storage). Esses enormes bancos de baterias são capazes de guardar energia nos momentos de sobra de geração e devolver o energético para o sistema nos momentos de redução da oferta de energia.
Segundo a consultoria Clean Energy Latin America (CELA), o mercado de armazenamento de energia no Brasil deve crescer 12,8% ao ano até 2040, adicionando 7,2 GW de capacidade instalada e movimentando US$ 12,5 bilhões. A CELA, porém, acredita que essa adição pode chegar a 18,5 GW no período desde que haja incentivos e metas para integrar as baterias a infraestrutura de geração.
Em março do ano passado, a Isa CTEEP inaugurou seu primeiro projeto de armazenamento de energia no Brasil.
A consultoria A&M Infra estima um crescimento de 30% ao ano da capacidade global de armazenamento de energia, somando investimentos de US$ 106 bilhões até 2030 em todo o mundo.
11. Digitalização do setor elétrico: tendência em ascensão
O processo de digitalização do setor elétrico tem causado impactos positivos e criado novos desafios nos segmentos de geração, transmissão, distribuição e consumo de energia elétrica.
Tecnologias como Internet das Coisas (IoT), inteligência artificial, machine learning, big data e 5 G estão permitindo que as empresas sejam mais eficientes e ofereçam novos serviços aos consumidores.
A digitalização traz mais a automação à rede de distribuição, reduzindo os tempos de interrupção de energia. Com os medidores inteligentes, as distribuidoras podem ofertar serviços customizados para os consumidores, fazer uma leitura remota do consumo, ligar e desligar o fornecimento de energia sem a necessidade de enviar um técnico, além de reduzir a inadimplência e custos com furtos de energia.
As geradoras e transmissoras podem operar a infraestrutura remotamente, com isso ganham agilidade e redução de custos de operação. A coleta de dados em tempo real possibilita a identificação precoce de problemas e tomadas de medidas corretivas.
Por outro lado, à medida que o sistema fica mais digitalizado, aumenta a necessidade de ações para aumentar a segurança cibernética – para proteger as redes e os consumidores de ataques hackers.
12. Autoprodução de energia
No início, a autoprodução de energia era vista como algo apenas viável para grandes indústrias. De fato, as grandes empresas continuam investindo nessa modalidade para reduzir custos operacionais, travar preço de energia e ganhar mais autonomia no suprimento energético.
No entanto, desde 2012 as pequenas empresas e clientes residenciais também podem investir na produção própria de energia, modalidade conhecida como Geração Distribuída (GD).
A GD está em ascensão no Brasil e essa tendência é de continuidade nos próximos anos. Atualmente (jan/24), existem mais de 2,34 milhões de micro e miniusinas em operação no país, com 99% utilizando a energia solar como forma de produzir eletricidade.
Essas usinas são instaladas em telhados, fachadas e terrenos de casas, pequenas empresas, escolas, propriedades rurais e órgãos públicos. No total, são 26,4 GW de capacidade instalada, o equivalente a quase duas hidrelétricas do tamanho de Itaipu.
Ano cheio de novidades
Como vimos, há grandes expectativas em relação ao ano de 2024. São esperados a realização de leilões de energia e de linhas de transmissão, renovação das concessões das distribuidoras, regulamentação do hidrogênio, expansão das fontes renováveis e da mobilidade elétrica e crescimento do Mercado Livre de Energia.
Claro que muitas outras tendências podem surgir neste ano, assim como muitas das perspectivas que apresentamos poderão ser frustradas. Mesmo assim, buscamos trazer um panorama dos eventos que acreditamos ser os mais importantes.
Esperamos que essas informações contribuam para que os investidores e empresários tomem boas decisões e aproveitem as oportunidades do mercado de energia em 2024.
A Simple Energy conta com uma consultoria especializada caso você queira se aprofundar em alguns dos temas abordados. Também oferecemos serviços para apoiar empresas que pretendem participar dos leilões. Além disso, somos uma comercializadora de energia habilitada a atuar no Mercado Livre de Energia. Venha conhecer a nossa assessoria em Gestão de Energia.